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Morretes, os sinos e os sineiros (*). Mauro Cherobim Cada vez que chego em Morretes, sinto nos meus ouvidos os sons dos sinos da matriz: quando tristes, entristeciam os morretenses; quando alegres, alegravam a todos.   Cada “música”, isto é, cada batida, identificava uma atividade religiosa, mas também havia uma batida para a comunidade. Sou de uma geração que nasceu e se criou ouvindo os sinos da Igreja Matriz. Eu fui um dos sineiros da Igreja. Na torre da Matriz havia quatro sinos, numerados do menor ao maior, em primeiro segundo terceiro e quarto. Cada sineiro se especializava num deles. Os primeiro e segundo sinos eram os “de repique” e eram tocados por um só sineiro e era quem dava o ritmo. O quarto fazia um acompanhamento, surdo, e era o responsável pelas e emoções. As tristezas e as alegrias. O terceiro intermediava o “diálogo” dos sinos menores com o “solo” do quarto. Ao toque dos sinos a cidade ficava alerta: alguém havia falecido. Quem? Logo a notícia se espalhav
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Tudescas e polacas

Tudescas e polacas O avô da minha mãe, napolitano morava na região do Ahú e por lá moravam muitas famílias polacas e tudescas (tedescas, como falávamos). As meninas eram muito bonitas, mas havia preconceito contra a polaquinhas. Meus primos me ensinaram que que se fosse namorar uma guria loura olhasse para os tornozelos. Se fossem grossos seria de uma polaca; se fossem finos seria uma tudesca. Como os meus olhos não estavam habituados a esta seleção “tornozelal” olhei para o todo. Tive que retornar para Morretes e perdi o contato com a encantadora polaquinha. Estou passando a você um vídeo a história de Chico Guil, irmão da nossa amiga Ana Guil, de origem ucraniana, que nos conta estes conflitos de relações raciais (na verdade étnicas) antes destas chateações do politicamente correto. https://www.youtube.com/watch?v=O34LT8hkn7g

HUMAITÁ E A SUA BIBLIOTECA

HUMAITÁ E A SUA BIBLIOTECA  Mauro Cherobim A história de Humaitá (AM) confunde-se com a chamada “civilização da borracha”, acompanhando os seus altos e baixos. Nasceu para ser barracão (sede de seringal), mas se transformou em cidade. O seu fundador, “ cavalheiro de boa educação e modos finos ” (escreveram os cronistas), foi o Comendador José Francisco Monteiro, também coronel da Guarda Nacional. Era proprietário de um seringal em Mirari, local próximo, rio acima; o ataque de índios obrigou-o transferir o seu barracão para onde é Humaitá . Comendador Monteiro foi o que se chamou de coronel de barranco , isto é chefe político, mas era, também, um comerciante ativo – para época, um homem progressista. Estas características (chefe político e comerciante) somadas possibilitaram a transformação da sede do seringal em cidade. Esta trajetória foi acompanhada por uma série de atividades sociais e literárias. Ali foram impressos o primeiro jornal do Alto Madeira, o Humaytaense

A retórica do essencial e a do não essencial

Eu sou aposentado e pertenço ao grupo de risco. Posso passar 24 horas em casa. Mas preciso comer e ir à farmácia e em muitos outros lugares. Na semana passada falei para a minha filha para não esquecer comprar manteiga. Na minha alimentação deve ter pouco sal e por isto compro uma determinada marca sem sal. Ela foi e falou que ainda não tinha a manteiga que consumo. No início desta semana e hoje ela me falou a mesma coisa. A manteiga está em falta. Vocês poderão dizer que esta manteiga não é produto essencial. Com muita razão. Estou vivendo há duas semanas sem comer a manteiga que gosto muito de passar no meu pão. Mas o que é essencial para mim não é para todo mundo. Têm toda razão. No entanto eu não sou o único que consome esta manteiga e é por isto que ela está faltando na prateleira do supermercado. É o que os economistas chamam de demanda. Vamos partir do caso da minha manteiga e imaginar os processos que a manteiga passa desde o ubre da vaquinha até a minha mesa. Vou falar

HUMAITÁ 150 ANOS

Humaitá 150 anos Mauro Cherobim 15/05/2019 A Amazônia faz parte da minha vida desde antes de meu avô materno conhecer a minha avó. Ele fez parte de uma tropa de Exército que se dirigia ao Acre na questão do Brasil com a Bolívia. Mas o contingente que ele fazia parte retornou da confluência do Purus com o Solimões ao Rio de Janeiro em face de ser atacado pelo beribéri. As histórias que o meu avô contava prendiam a minha atenção. Em 1959 recebi as divisas de terceiro sargento radiotelegrafista de terra da Força Aérea e fui designado para trabalhar na estação de comunicações de Goiânia e em seguida para a Estação de Xavantina, agora Nova Xavantina, em Mato Grosso, onde passei o ano de 1960. Estava na rota do Correio Aéreo Nacional (CAN) que fazia a linha Galeão-Santarém. Pelo menos uma vez por mês ia a Santarém fazer compras, quando conheci o Xingu, Cachimbo, Jacareacanga e Santarém. Nesta época a Força Aérea era responsável pela “Rota Rio-Manaus” e a estação de comunicações d

A pandemia do Coronavirus e as estatísticas.

A pandemia do Coronavirus e as estatísticas. Será que a leitura nos faz mal? Talvez faça. Ela nos levar a refletir, a pensar como o um pai me aconselhava, quando eu me queixei com ele por ter que viajar entre Paranaguá e Londrina, em estradas de terra, cuja velocidade era, em médio, de 30 km/h. A viagem demorava entre 18 e 20 horas. Desde que não chovesse. Isto há 66 anos. Segui a orientação dele; era o meu herói. Não só ele; meu pai e minha mãe eram os meus heróis. Segui a sua orientação. Gostei e me “viciei” a pensar. Pensando bem, foi fácil seguir os conselhos o meu pai porque a minha mãe pedia que eu descrevesse os meus desenhos; pedia-me que eu descrevesse os meus desenhos, que eram todos de paisagens. Aqueles pensar e descrever, sem que os meus pais me falassem, comecei além de ver, observar, ou seja, “ver o invisível”. Usando a fotografia como comparação, a minha máquina fotográfica tem uma opção chamada de RAW, que inglês significa cru, carrega detalhes muito profundos de