HUMAITÁ E A SUA BIBLIOTECA
Mauro Cherobim
A história de Humaitá (AM) confunde-se com a chamada “civilização
da borracha”, acompanhando os seus altos e baixos. Nasceu para ser barracão
(sede de seringal), mas se transformou em cidade.
O seu fundador, “cavalheiro de boa educação e modos finos”
(escreveram os cronistas), foi o Comendador José Francisco Monteiro, também
coronel da Guarda Nacional. Era proprietário de um seringal em Mirari, local próximo,
rio acima; o ataque de índios obrigou-o transferir o seu barracão para
onde é Humaitá.
Comendador Monteiro foi o que se chamou de coronel de
barranco, isto é chefe político, mas era, também, um comerciante ativo –
para época, um homem progressista. Estas características (chefe político e
comerciante) somadas possibilitaram a transformação da sede do seringal em
cidade. Esta trajetória foi acompanhada por uma série de atividades sociais e
literárias. Ali foram impressos o primeiro jornal do Alto Madeira, o Humaytaense,
em 1891. Este jornal circulou durante 25 anos. Ao seu desaparecimento em 1918,
foi criado um jornal, O Madeirense, de vida mais curta: dois anos. Estes
jornais, principalmente o primeiro, abrigaram as produções literárias e
artísticas de seus leitores. A Sociedade Artística Beneficente Humaytaense
promovia atividades sociais, literárias, artísticas e cívicas. A cidade chegou
comportar um professor particular de música e uma a sua banda musical com o seu
maestrino. O Humaytaense fala em um círculo de leitura, que deveria ser
um grupo de pessoas interessadas na leitura de novidades literárias. Os fatos jornalísticos
publicados em jornais de outras regiões brasileiras eram resumidos pelo jornal
local.
Os humaitaenses da passagem do século eram pessoas bem
informadas, “de boa educação e de modos finos”, qual seu dirigente político. As
leituras e comentários realizados pela elite da cidade deveria chegar aos ouvidos
dos que sempre estavam em volta “dos cultos”. Criava-se um clima com o ensejo
para a formação de uma Biblioteca municipal, pois o Intendente (como era
chamado do prefeito) era o dono da cidade e o seu incentivador.
Esta Biblioteca Municipal quase centenária chegou até hoje
por obra do acaso. A queda do extrativismo da borracha fez diminuir os meios e
o interesse pela arte, literatura, música. A Biblioteca, hoje, não passa de um “monumento
arqueológico, dentre outros, testemunhas de uma fase próspera da idade.
OBS: Este texto foi escrito em 1976. Encontrei-o entre o
material do projeto e do relatório de pesquisa realizada naquele ano financiada
pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Permaneceu
inédito até agora.
Alegro me em fazer parte dessa história por alguns intervalos no tempo e na História. Memória é fazer presente o passado que dá sentido a um futuro. Parabéns! Obrigada pelo compartilhar.
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